sábado, 14 de agosto de 2010

Pequeno texto sobre a comemoração do aniversário de Gonçalves Dias


Na última terça, dia 10 de agosto, foi comemorado na Praça Gonçalves Dias o aniversário do poeta que dá nome à praça e que figura como um dos maiores símbolos da nossa cidade.  Diante da estátua do literato, foram colados “cartazes” e uma banda tocava algumas músicas. Esta foi a comemoração até o momento em que presenciei, pois não foi possível me  deter por mais tempo em evento tão enfadonho.
A cidade de Caxias perde cada vez mais o seu contato com a preservação das tradições. O maior poeta da cidade, reconhecido no Brasil inteiro, foi festejado com uns cartazes de papel chamex e uma banda na praça. O evento sequer foi divulgado. Eu me fiz presente por um mero acaso.
O tempo passa e o que vemos é a superficialidade se alastrar até nos eventos culturais.  Ao que parece, os setores responsáveis por preservar e disseminar a cultura na cidade ou são desinformados ou  são indiferentes mesmo.  Se forem desinformados, pecam porque têm a obrigação de conhecer o sâmbito em que atuam. E se forem indiferentes, estão ocupando o lugar errado.   
Caxias é uma cidade que possui grande potencial artístico e cultural, que entretanto está sendo subutilizado. É uma vergonha para todos aqueles que se debruçam sobre o patrimônio imaterial da nossa região.

domingo, 4 de julho de 2010

A derrota do Brasil e os brasileiros

Futebol não está incluído na minha lista de paixões, nem em época de copa do mundo, mas precisa-se reconhecer o significado que um título mundial tem para os brasileiros. A saída da seleção brasileira da competição sempre é trágica.
As ruas enfeitadas parecem agora uma ofensa à população que vibrava diante da ideia da conquista de mais uma vitória. O comércio está impregnado de objetos verde e amarelos que não serão mais vendidos neste ano. Esse desejo de conquista já faz parte da identidade dos brasileiros, queiramos ou não. O futebol é uma das poucas formas com que o nosso país recebe algum reconhecimento positivo exterior.
Ganhar a copa do mundo é uma questão de identidade e de autoestima para a população brasileira. É um dos poucos momentos em que o brasileiro –seja por ilusão ou não – sente orgulho de fazer parte desta nação.
Em época de copa as pessoas desembestam, ficam loucas, fanáticas e até ridículas, sem se importar. O patriotismo é sugerido não só pela indução da mídia, que provoca reações desprovidas de reflexão crítica, mas pela oportunidade restrita de poder sentir orgulho do país em que vive.
O brasileiro não se orgulha da violência urbana, da corrupção política, da desigualdade social, enfim, de todas as mazelas que já fazem parte do cotidiano das pessoas, que são obrigadas a conviver com o medo, com a pobreza, com a frustração etc. Não se pode ser patriota em outras épocas, porque não há muito do que se orgulhar quando não se é um país desenvolvido.
Vale lembrar também o papel do futebol na construção do sentimento nacionalista brasileiro, utilizado durante a ditadura militar, que lançou a figura de Pelé e propagou slogans de “Brasil, país do futebol” e “Pra frente, Brasil, Salve a Seleção”. Pensando nesse sentido, o futebol é também uma maneira de desviar a população dos problemas enfrentados pela mesma.
Pode-se fazer referência à velha política do pão e circo, já que as pessoas se divertem e se satisfazem em orgulho nacionalista enquanto o país caminha com uma perna só. A ideia de pautar esse orgulho no futebol é perpetuada na contemporaneidade e assim a copa do mundo continuará como um dos maiores eventos das vidas nossas.
Torcer pela seleção brasileira se constituiu um verdadeiro dever da população. A mídia incentiva a torcida, e as pessoas aderem. Perder o título não é uma questão pertinente à competição, mas à própria construção do sentimento patriótico brasileiro, que se sustenta no fato de realizar boas partidas de futebol. A tradição do futebol no Brasil não se resume aos jogos em si, mas desliza pelos sentimentos das pessoas, que levantam a bandeira com lágrimas pelo rosto. Esse sentimento também foi forjado, embora não percebamos isso facilmente.
O significado da derrota brasileira - sem mencionar as construções vomitadas pela mídia na massa - extrapola a ausência de um título e percorre a existência de todos aqueles que depositaram esperanças vazias de dias melhores na conquista do hexa.

sábado, 26 de junho de 2010

FAZER PARTE: ESSE É O LEMA

Texto publicado na página Folha Cult, do Jornal Folha do Leste

Nestes dias em que as pluralidades imperam, em que os indivíduos procuram estabelecer uma identidade, demarcando os territórios, a massa, tão criticada pelos intelectuais, tem se assumido cada vez mais e declarado: “Eu quero fazer parte da massa”.
A massa, esse conceito tão badalado pelos teóricos, pode ser traduzida de maneira superficial como sendo aquela velha ovelhinha que segue o rebanho sem perguntar pra onde está indo.  E hoje, mais do que nunca, a massa se conscientiza da própria existência. E se orgulha de ser massa.
As pessoas criam uma identidade própria, na intenção de se singularizarem. No entanto, no fundo, estão buscando cada vez mais serem  iguais umas às outras. Os adolescentes, por exemplo, pintam os cabelos, usam óculos estranhos, roupas estranhas, um vocabulário próprio. Mas, se formos analisar, todos eles vestem-se e portam-se de maneira igual, seguindo uma tendência que os identifica a olho nu como pertencentes a um grupo.
Aliás, falando em moda, esse é um outro aspecto da sociedade atual que se relaciona diretamente com o fenômeno de inclusão da massa. Seguir a moda se tornou algo tão essencial que o mercado não oferece produtos diferenciados. A clientela prefere aquilo que está “na moda”, e isso reflete um desejo inconsciente de agrupamento, de igualdade. É como se as pluralidades existentes impelissem todos a uma vontade de “fazer parte de um todo”.
Sendo assim, é mais interessante usar a bolsa que a personagem da novela usa, e que todas as mulheres estão usando, do que comprar um acessório que ninguém utiliza, que não caiu no gosto do povo. Essa bolsa que todo mundo tem demonstra o desejo de inclusão de quem a exibe nas mãos. Desse modo, ao topar na rua com outra mulher que possui o mesmo objeto, ocorrerá um sinal de indentificação: nós estamos incluídas, nós nos entendemos porque gostamos das mesmas coisas.
Aquelas pessoas que não forjam a própria personalidade de acordo com as tendências acabam por ficar à margem, sem opção, ou se veem obrigadas a usar o produto que todo mundo usa. A moda transforma-se em uma ditadura, uma imposição. As pessoas já estão programadas para consumir os produtos indicados pelas mídias. Em vez de protestarem, mostram-se cada vez mais à vontade, declarando sem saber : ”Eu preciso ser da massa”.
Cada vez mais, portanto, encontraremos indivíduos semelhantes que se acreditam singulares. Na corrida do consumo, vence quem consegue manter-se de acordo com as tendências. Vence aquele que ouve o que todo mundo ouve, que veste o que todo mundo admira porque se veste igual. O grande campeão é aquele que é capaz de estar perfeitamente dissolvido no angu da massa.  
 

terça-feira, 8 de junho de 2010

Encontros semanais reúnem interessados em literatura

Na quinta, dia 26, aconteceu uma reunião encabeçada por jovens escritores caxienses, no salão da Academia Caxiense de Letras, com a finalidade de realizar leituras e discussões sobre literatura. Na ocasião, foram lidos poemas de Cecília Meireles, que suscitaram comentários e discussões. Este encontro foi a primeira realização de um projeto que pretende que em todas as quintas sejam organizadas reuniões de cunho artístico e cultural no local.
A ideia surgiu da necessidade percebida pelo grupo, já que as manifestações do gênero na cidade são escassas e nunca possuem continuidade. O evento será realizado semanalmente e será aberto ao público participante ou ouvinte. A cada semana um escritor é escolhido pelos participantes para ser estudado.
Como a maioria dos idealizadores do projeto são escritores ainda sem publicação de livros, no final de cada sessão, serão distribuídos jornais produzidos pelo próprio grupo, formado por Thania Klycia, Stênio França, Júnior Magrafil, Bispo Jr. e Estefânio Silva. O periódico, denominado Jornal Influenza é confeccionado de maneira ainda artesanal, apresenta as produções literárias daqueles que frequentam o evento, contendo textos em prosa ou em verso.
As publicações do Jornal Influenza se estendem a novos participantes. A finalidade do mesmo é divulgar e discutir a produção literária caxiense entre os próprios caxienses, promovendo não só o incentivo para o surgimento de novos escritores e leitores, como também a melhoria na qualidade das produções locais, a partir dos estudos e discussões realizados.
O segundo poeta abordado nas discussões foi Mario Quintana.

 





A terceira edição do evento contou com a presença do poeta ludovicense Paulo Melo Sousa e com a performance poética de Richter Wenzel.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Caxias tem perdido alguns de seus poetas (bens humano-culturais)


 Texto escrito pelo poeta Wybson Carvalho
                                 Caxias do Maranhão é uma cidade que, ainda hoje, serve de referência para o país quando o assunto é a Literatura. É o berço de uma considerável plêiade de escritores e poetas de grande expressão no Brasil, a exemplo de Gonçalves Dias, Coelho Neto, Teófilo Dias, Vespasiano Ramos, Raimundo Teixeira Mendes, César Marques e muitos outros de uma constelação de literatos que brilha desde meados do século XIX e dois dos quais – Gonçalves Dias e Teófilo Dias - são patronos de cadeiras na Casa de Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras. Mas, Caxias insiste em dar à luz a novos escritores e poetas e pode ser chamada, sem exageros de “cidade maranhense dos escritores e poetas”, dentre os quais: Jacques Medeiros, Edison Vidigal, Firmino Freitas, Libânio da Costa Lobo, Adailton Medeiros, Déo Silva, Cid Teixeira de Abreu, Naldson Carvalho, Renato Meneses, Jorge Bastiani, Quincas Villaneto, e outros tantos...
                              Porém, nesses últimos anos, Caxias tem perdido alguns desses seus bens humano-culturais, que tanto iluminavam e davam energia às gerações mais novas de continuar a teimar em cultuar, especialmente, à poesia, dentre os quais: Déo Silva, Cid Teixeira de Abreu e Adailton Medeiros, que, para ambos, o poema era o próprio homem retratado através de letras no papel. Dois deles pediram-me, ainda, em vida, que eu escrevesse sobre suas vidas – Déo e Cid – e, assim, eu os obedeço, agora, neste periódico.       
                               Mas, ser poeta e ser o quê? Segundo o sábio professor, escritor, poeta e jornalista maranhense, Alberico Carneiro: “se é atualíssima, ainda, hoje, a teoria de Aristóteles sobre a arte da poesia ou da poética, apresentando-a como imitação, transformação ou mutação da realidade vista por outro ângulo, o poeta é uma espécie de mago, feiticeiro, bruxo ou encantador. Desse ponto de vista, ele, o poeta, pode transfigurar a linguagem da semântica, isto é: fazer com que as palavras, à maneira dos camaleões, passem por um processo mimético ou do mimetismo. E, assim, como camaleão que, para preservar-se dos predadores mais perigosos, adapta a coloração da pele à cor do ambiente, para fingir e confundir-se com a paisagem, também o poeta faz com que as palavras imitem a realidade, procurando inseri-las no contexto semântico que corresponda à contemporaneidade.
                             O poeta português, Fernando Pessoa, traduz esse paradoxo ou ambiguidade aristotélica sobre o ato da imitação à realidade: “o poeta é um fingidor/finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.
                             Já o poeta ludovicense, Nauro Machado, outro ser humano-cultural incompreendido em seu tempo, se confessa e, portanto, explica-nos: “a dor de ser poeta/ do ser fatal/ a dor de ser feroz/ é instante só/ mas que no ser demora e dura e fere/ para que mais doa”.
                             Déo, Cid e Adailton, tiveram essas performances em suas personalidades literárias e, por isso, talvez, não foram compreendidos na essência de suas vidas.

Eis, a seguir, as breves biografias de Déo Silva, Cid Teixeira
e uma análise sobre Adailton Medeiros:







O poeta de vanguarda

                            
                                    Raymundo Nonato da Silva, conhecido nos meios literários pelo pseudônimo de Déo Silva, nasceu em Caxias a 15 de agosto de 1937 e era filho de Jefferson Antônio da Silva e de Araçay Carneiro da Silva. Seus estudos se iniciaram com o curso primário, concluído no Grupo Escolar Gonçalves Dias em Caxias-Maranhão. O curso ginasial, iniciado no Colégio Caxiense não chegou a concluí-lo.
                                   Autodidata, tinha um verdadeiro fascínio pela Gramática e possuía um estilo incomum quando escrevia. Militou, nos primórdios de sua carreira literária, como jornalista, integrando o corpo redacional dos principais jornais de São Luis, entre os anos 1953 e 1954. Foi redator-chefe do Suplemento Literário do “Diário da manhã” de 1957 a 1959. Atuou como locutor-redator, nas rádios: Ribamar, Timbira e Difusora em São Luis entre 1953 a 1958.
                                   Lançou seu primeiro livro: “ÂNGULO NOTURNO” (prosa e poesias em 1959, obra que, de certo modo, revolucionou as letras maranhenses, inclusive por apresentar experiências gráfico-jornais. Fez parte, ao lado de Bandeira Tribuzzi, Ferreira Gullar, Nauro Machado e José Chagas, do Movimento Concretista, que se esboçou no Maranhão, imprimindo a força e o vigor do seu talento.
                                   Ao tempo em que era chefe regional da Carteira de Crédito Agrícola e industrial do Banco do Brasil S/A (CREAI), divulgou, através da imprensa, um trabalho de pesquisa sócio-econômico pertinente à cidade de Pinheiro, na baixada maranhense, tendo com resultado uma alteração substancial e proveitosa na vida creditícia e produtora daquela região. Em 1970 se ausentou do Maranhão durante seis anos. Em Manaus, vinculado ao Clube da Madrugada, órgão que congrega os escritores daquela região, publicou, através da imprensa, vários artigos e poemas que obtiveram grande receptividade.
                                   Participou, em 1973, da Primeira mostra de Arte Concreta Brasileira, realizada em Fortaleza-Ceará. Representando o Estado do Maranhão, apresentou, ao ensejo, o produto de suas pesquisas estéticas, veiculadas após pela imprensa alencarina. Participaram nesse conclave autores de nome nacional como Décio Pignatari, Goebel Weyne e outros.
                                   Em 30/10/1977, recebeu do “Clube Recreativo Caxiense”, o diploma de poeta-filósofo. Em 31/07/1978 recebeu, em Teresina, o certificado de “Homem de Ouro”, de preferência pública, pela sua atuação literária durante aquele ano. Em 30/07/1979, indicado pela Presidência da extinta, Fundação Cultural do Maranhão, de quem era Assessor, participou, com destaque, do “Seminário como Núcleo de Altos Estudos Amazônicos”, promovido pela Universidade Federal do Maranhão.
                                   Conhecedor da região amazônica , onde fez diversificadas pesquisas, lá assistiu, na tribo dos Ticunas, à festa da “Menina moça”. E o Cacique, na oportunidade, deu-lhe, de presente, um colar (trabalho artesanal) contendo as mais importantes aves e répteis da região, feitos de tucum. Em 1980 foi publicado seu segundo livro “EQUAÇÃO DO VERBO” (prosa e poesia), obra premiada através do plano Editorial – 80, FUNC/SIOGE.
                                   Figura, com certo mérito, em vários livros de crítica. O respeitável escritor brasileiro Walmir Ayala, através do Jornal do Brasil (Rio) assim se expressou relativamente à poesia de DÉO: “labiríntico exercício de ser uma certa melancolia, tendendo à poesia pura”.
                                   Suas atividades no Banco do Brasil nos Estados do Maranhão (Caxias e Pinheiro), Pará ((Marabá), Amazonas (Tefé) e São Paulo (Jaboticabal), foram marcadas pelo seu talento criativo e renovador. Foi chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Caxias (1977-1978). Assessor da Provedoria do Hospital “Miron Pedreira” em Caxias de 1976 à 1978. Exerceu o cargo em Comissão de Assessor Cultural do Departamento de Assuntos Culturais da Fundação Cultural do Maranhão.
                                     Déo faleceu a 27 de setembro de 1983.

Obras Inéditas:

1.      “NUVENS DO FANTÁSTICO” (estórias e lendas);
2.      “HISTÓRIA DAS IGREJAS DE CAXIAS”;
3.      “GRANDEZA E MISTÉRIO DO AMAZONAS” (prosa);
4.      “ESCADA DE BETEL” (poesia);
5.      “DJÉBEL” (poesia);
6.      “COISA DAS COISAS” (poesia);
7.      “PACTO E IMPACTO”;
8.      “O MARANHÃO E A GRAMÁTICA”, (estudo crítico).


Um poema de Déo Silva:

Fotografia

eis minha angústia
perto da manhã,
a crescer, como um arbusto,
na planície vã.
D.S.

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O filósofo poeta

 

                           Cid Teixeira de Abreu nasceu na comunidade Alto dos Negros da cidade de Caxias do Maranhão, em 02 de julho de 1937. Era filho de João Luiz de Abreu e Amélia Assunção Teixeira de Abreu.

                            A escolaridade de Cid Teixeira de Abreu foi iniciada em sua terra natal, onde cursou o primeiro grau no Grupo Escolar Coelho Neto. Posteriormente, já em terras alterosas, na capital, precisamente, Belo Horizonte, concluiu os segundo e terceiro graus no Colégio Marconi e Universidade Federal de Minas gerais; habilitando-se com o Bacharelato em Filosofia. Porém, para enriquecimento dos seus conhecimentos, Cid Teixeira de Abreu tornou-se pós-graduado em Especialização da Educação pela Universidade Federal do Piauí, na qual fora exímio membro de seu corpo docente.

                            Na vida funcional, o ilustre filósofo e mestre caxiense, Cid Teixeira de Abreu, exerceu atividades como professor de filosofia no Colégio Ângelo Roncalli, na capital mineira, Belo Horizonte; em sua cidade, Caxias do Maranhão, no Ginásio Caxiense, no Colégio São José, na Faculdade de Educação de Caxias e, ainda, em Teresina; na Universidade Federal do Piauí.

                            Filosoficamente, além da docência, Cid Teixeira de Abreu inseriu-se no campo literário e, nele, construiu uma vasta obra no gênero da poesia moderna e de cordel. Publicou seu primeiro livro de poesias em 1961, intitulado Poemas I, depois vieram Terra-Terrão, em 1985; Moenda, em 1986 e Ulysses & Outros Motivos, em 1995. Em cordel, lançou A Função Social do Cordel, em 1995; O Galo, em 1995; A Balaiada, em 1996; Ilustração Eleitoral, em 1996; Caxias, em 1997; Mangueira, em 1997; A Máquina de Votar, em 1998. Participou, também, em várias Antologias Poéticas, dentre as quais: Poetas Brasileiros de Hoje, em 1985; Visão Histórica da Literatura Piauiense, em 1991; Escritores e Poetas de Todos os Tempos, em 1993; Dicionário Biográfico de Escritores e Poetas, em 1995; Baião de Todos, em 1996, Andarilhos da Palavra, em 2000.

                             Cid Teixeira de Abreu foi membro fundador da Academia Caxiense de Letras com assento na Cadeira nº 05, cujo patrono é Vespasiano Ramos. Como literato, ganhou inúmeros prêmios institucionais de poesia: Diário de Minas, Jornal dos Livros, União Nacional dos Estudantes, Clube da Poesia e Prêmio Internacional de Poesia Americana (Colorado, EUA ). Cid Teixeira de Abreu desapareceu, em 10 de dezembro de 2004; um dia após ter sido homenageado pela Câmara Municipal de Teresina, capital do Piauí com a distinção de “Cidadão Teresinense”.                

                      
Um poema de Cid Teixeira de Abreu:


Ulisses & outros motivos

simplesmente ir como coisa entre coisas
a dizer que a trilha ofusca e brilha
em cada passo sem marcas.
seguir
sem que os passos encontrem o eco dos sapatos 
 C.T.A.
                              


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                              Sobre Adailton Medeiros, com quem estive apenas em duas ocasiões, o jornalista e escritor carioca, Canha Silva Filho, fez a análise que se segue:
 
O monge poeta

                          Adailton Medeiros, poeta no superior sentido da palavra, poeta criativo, inserido na modernidade, vindo da Vanguarda chamada Práxis, surgida no ano de 1962. Como salienta Assis Brasil no seu utilíssimo Vocabulário técnico de literatura (Edições de Ouro, 1970), aquele movimento inovador, inaugurado por Mário Chamie, constituiu com o Concretismo de 1956 e o Poema-Processo (1967) os “três movimentos de Vanguarda no Brasil”
                           A sua evolução poética não o limitou ao praxismo. As vanguardas são válidas, porém passam. Deixam lições, processos novos de poeticidade e, no final, seus adeptos mudam de rumo em direção a seus próprios caminhos, ou seja, procuram uma poesia que atenda ao valor da palavra, do verso e do discurso, mas, na geral, as marcas espácio-gráficas parecem insinuar-se nas novas formas da produção poética. A sintaxe e o espaço livre da página, a extensão das linhas do verso, alguns recursos grafemáticos voltam a integrar os novos processos, técnicas, dicções e vozes da poesia contemporânea, nacional ou universal.

                             Adaílton Medeiros deixou 9 obras, 5 no gênero poético e 4 distribuídas em ficção, uma novela, Revoltoso Ribamar Palmeira (Rio de Janeiro: Matavalos, 1978); Braçadas de palmas (discurso), Rio de Janeiro: ACLERJ, 1981); Floração de Minas (discurso), Rio de Janeiro: AbdL, 1982); Quatro ensaios In: Samuel, Rogel.(org.). Literatura básica. Petrópolis: Vozes, 1985, v. 1. Poesia: O sol fala aos sete reis das leis das aves. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972; ; Cristó’ vão Cristo: Imitações.São Luís/Rio de Janeiro: Coleção Azulejo, 1976; ; Poema Ser Poética, texteoria. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982: Lição do mundo. Rio de Janeiro, Edição. Sete, 1992; Bandeira vermelha. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2001.

                            Adailton Medeiros foi jornalista, professor ( por pouco tempo) e atuou no setor privado. Essencialmente, era poeta. Pertenceu à Academia Brasileira de Literatura, Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro e Academia Caxiense de Letras, (Caxias, MA). Era sócio dos Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro. Pertencia à Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Academia de Letras de Uruguaiana (RS), ao Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, à Academia Internacional de Ciências Humanísticas. Membro vitalício da IWA - International Writers and Artists Association (USA). Sua poesia se encontra em antologias e periódicos nacionais e internacionais.
Adailton Medeiros faleceu a 09 de março deste ano de 2010.

Um poema de Adailton Medeiros:

O SINO

“O sino bate
dentro de mim
O sino toca
na Catedral
ou no Mosteiro
Agora, o sino soa
surdo por mim” A.M.

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O SINO

O sino bate
dentro de mim
O sino toca
na Catedral
ou no Mosteiro
Agora, o sino soa
surdo por mim                                  



 

 

 

    


quarta-feira, 14 de abril de 2010

O mais inteligente é sair daqui

    Em Caxias vive-se uma época de infertilidade artística. Os grupos que desenvolvem trabalhos na área não recebem incentivos e consequentemente não possuem acesso àquilo que de mais atual está sendo produzido no Brasil em termos artísticos. 
     Diante desse quadro não se pode sequer reclamar dos espetáculos ultrapassados ou de pouca qualidade que são encenados na cidade. Aqui, o tempo não passou, porque ficamos como uma cidade esquecida, que esporadimente recebe alguma novidade. 

     Não há preocupação com o desenvolvimento da arte e da cultura local. Se houvesse esse intuito, haveria dinheiro disponível para as realizações propostas. Mas a verdade é que na cidade de Caxias o desenvolvimento intelectual não parece ser a prioridade. 
     Nega-se à população caxiense o direito ao conhecimento artístico, enquanto se reclama que a culpa é da falta de organização dos grupos. Na verdade, Caxias possui vários grupos organizados, no entanto, sem incentivo algum para seus projetos.

      Caxias é terra de Gonçalves Dias, mas ele bem soube que se queria ser grande, precisava sair daqui. Será que isso nunca vai mudar?
                                                                                                                  (Thania Klycia)

quarta-feira, 31 de março de 2010

Fotos do ensaio geral do Fogaréu

O Profeta e as mulheres de Jerusalém louvam o Cristo


                                             Jesus ensinando seus discípulos
                                                    Simeão recebe a promessa da vinda do Messias


                                                    Durante a Santa Ceia Jesus anuncia a traição 
                                           Jesus chora no monte das Oliveiras



                                             Os demônios se levantam para atormentar Jesus


                                               Jesus é amparado pelos anjos


                                               Jesus é rodeado por anjos

segunda-feira, 29 de março de 2010

Mostra de Teatro em Caxias

Em comemoração ao Dia Internacional do Teatro, o SESC de Caxias organizou uma mostra com apresentações de grupos e pessoas da cidade que desenvolvem trabalhos na área.

Estiveram no palco a Cia. Performance, com os atores Bispo Jr, Tati Rabelo e Carliana Oliveira, apresentando esquetes variadas, além dos já conhecidos jogos do espetáculo “Improvisando”, encenado em três outras edições pelo grupo. Os atores envolveram o público não só através do riso em conjunto, mas diretamente, convidando-os a participar com eles no próprio palco.
Outras apresentações na linha da comédia também foram realizadas por atores que participam das oficinas do SESC. Preta (Josenilda Brito) juntamente com mais duas atrizes mostrou ao público duas esquetes humorísticas.



O Grupo Viv’arte, de direção de Luís Carlos, apresentou uma proposta inovadora para a cidade. Com uma encenação abstrata e com um texto poético, os atores falaram do papel do artista e da própria existência humana. Vestidos de preto e com os rostos pintados de branco, eles derramaram um texto denso para os olhos atentos, enquanto se prendiam uns aos outros, através de um pano que os encobria.

Embora a comemoração tenha sido um tanto simples, em comparação a outros lugares, onde o teatro já possui as raízes firmadas, a Mostra de Teatro não deixou passar em branco essa data importante. O teatro em Caxias ainda é muito pouco valorizado, pois não existe incentivo nem das instituições culturais que deveriam ser responsáveis, tampouco os empresários da região se interessam em patrocinar eventos culturais e artísticos.

Ainda há muito que se alcançar em relação a isso em Caxias, mas os grupos continuam na luta, não deixando de contar com a esperança, que ainda persiste nos artistas.

                             Thania Klycia.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Léo Barata e sua boca grande


A Revista Binóculo não é um blog de política, mas vou abrir um parêntesis para comentar uma determinada situação que tem incomodado em Caxias.
Quem não ficou sabendo da ousadia do vereador Léo Barata em denunciar algumas atitudes da Secretária Sílvia Carvalho? As palavras que o jovem político proferiu são comentários que se ouve com frequência pela cidade e não era novidade para ninguém. O que ninguém esperava era vê-los na boca de um vereador.
Pois bem, nesta terra de puxas-saco de plantão, alguém teve coragem, ao menos uma vez, de falar a verdade. O que Léo fez foi dizer o que muitos professores tinham vontade e não podiam. Uns dizem que fez isso devido a um interesse pessoal, mas a verdade é que fez e está feito.
O que se percebeu em seguida, no entanto, foi o cerco se fechando para Barata. Se, inicialmente, contava com o apoio de alguns colegas da nobre Câmara - que talvez tenham tido as orelhas puxadas -  em seguida Léo Barata se viu sozinho em sua indignação, com direito até mesmo a uma manifestação explícita de Thaís Coutinho em favor da secretária, na tentativa de deslegitimar o que o vereador dizia.
Quem não sabe também da indignação manifesta dos professores da rede pública municipal? O sindicato tem mostrado seu posicionamento através de paralisações e protestos. Na quarta, dia 24, eles resolveram ocupar a Câmara dos Vereadores.
Quem passou por lá viu que os professores ocuparam a casa o dia inteiro, e à noite, quando deveria acontecer a sessão da Câmara, só quem compareceu ao local foram Ricardo Marques e Leonardo Barata.
Quem sabe qual preço Léo pode estar pagando por ter tido a boca grande de ir contra as vontades superiores? Talvez não esteja mais sendo recebido pelo prefeito, ou esteja tendo seus pedidos negados. Será que o orçamento do Fogaréu, evento o qual o vereador encabeça, sofreu algum prejuízo?
Não sei se isso realmente aconteceu, mas se os gastos do Fogaréu tiverem sido prejudicados devido à indisciplina do vereador, que preferiu não continuar de boca fechada, isso além de vergonhoso é injusto, posto que a procissão é um evento tradicional da cidade, em que várias pessoas além de Barata estão envolvidas.
Não estou tentando puxar a sardinha para o prato de ninguém, no entanto, é inevitável não notar a ausência dos demais vereadores na Câmara durante a manifestação dos professores, sem contar no escancarado gelo que Léo Barata tem tomado devido ao fato de ter a “boca muito grande”.

Thania Klycia.  

Fogaréu em Caxias


A procissão do Fogaréu já se tornou evento tradicional na cidade de Caxias-MA. Há sete anos vem sendo realizada com êxito pelos seus organizadores. Tem atraído cada vez um maior número de espectadores e se tornado expressão do calendário religioso local.
Os últimos preparativos estão em andamento. O adro da Catedral recebe os atores durante a noite, para os ensaios. O grupo tem se esforçado, apesar da pouca verba de que dispõem para confeccionar figurinos e outros elementos essenciais à sua realização – o que não deixa de ser uma vergonha para Caxias que um evento que já se tornou tradição, que atrai inclusive pessoas de outros municípios, tenha que correr atrás de patrocínios de terceiros, quando se tem as instituições que deveriam colaborar de maneira decente para que o evento aconteça com qualidade.
Do mais, espera-se que se consiga sucesso na produção do evento. No que depende da organização, tenho visto seu empenho. A ausência de valorização das produções locais não é nenhuma novidade em Caxias, mas espera-se que os esforços pessoais sejam suficientes para suprir as carências que infelizmente a cidade oferece.


quinta-feira, 18 de março de 2010

Apenas os corajosos


Emitir uma opinião é algo que requer coragem. Seja uma opinião negativa ou positiva, um posicionamento acerca de determinado assunto sempre possui algum peso. Quem lê ou ouve o que se tem a dizer concorda ou discorda, e disso depende também a aceitação de quem se posiciona.
            É bem mais fácil, mais cômodo e mais apropriado atualmente, guardar as opiniões para si próprio, já que o mundo se tornou tão relativo que cada um pode ter a sua própria “verdade”. No entanto, quando alguém diz ou escreve algo em que fiquem definidos pontos de vista, isso implica um certo comprometimento.
            Na sociedade contemporânea, ao que parece, uma boa parte das pessoas tem medo de se comprometer. Não dizem o que pensam porque isso pode lhes custar alguma justificativa. E essa sensação ao que consta, não atinge só o meio intelectual. As pessoas têm medo até de se comprometer umas com as outras.
            Os relacionamentos afetivos estão cada vez mais descomprometidos. São poucas as pessoas que querem se importar com quem lhes rodeia. As amizades, os amores são efêmeros. Compromisso é algo que ficou apenas para os discursos profissionais.
            São poucos os indivíduos que optam por não olhar o mundo de cima de uma nuvem, vendo tudo por cima sem tentar interferir em nada. Isso demonstra uma certa apatia. É mais confortável estar de fora do que entregar a face para levar as pancadas que lhe são devidas. É bem melhor aceitar tudo do modo como já está. Se eu posso comprar fast-food, no ponto de comer, por que criaria uma receita nova para me alimentar?
            Não digo que seja necessário erguer bandeiras, não tem por que os extremos, todavia quem tiver opiniões importantes, deve se comprometer com elas, mesmo que no futuro mudem de opinião. O que se tem para dizer deve ser dito e se for preciso, pode ser justificado sem parecer um pecado mortal.
            Há quem ache que emitir opiniões seja tarefa muito fácil, mas, ao que tudo indica é algo que ficou apenas para os corajosos, aqueles que são capazes de expor a si mesmos e o que pensam.
Thania Klycia
           
            

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O ofício do escritor

O escritor percorre muitos caminhos na sua imaginação, até chegar a conseguir expressar com perfeita exatidão as imagens e sensações por ele criadas.

Respondendo a perguntas que dizem respeito ao processo de criação artística, indivíduos como William Faulkner, Georges Simenon, François Mauriac, entre outros, explicaram os elementos que os impulsionam ao ato da escrita, revelando assim, de certa forma, a alma do artista que há em cada um deles.

Não se pode generalizar quando se trata de grandes mentes criadoras, mas existem alguns critérios que costumam ser comuns entre aqueles que se empenham em expressar-se através da arte.

Antes de tudo, o artista é um sujeito que vive como todas as outras pessoas que existem, no entanto, há algo na sua percepção que o difere dos demais, fazendo-o notar e abstrair traços da própria vida humana e ser capaz de exteriorizá-la de maneira que possa ser percebida pelos outros indivíduos.

Uma das características que costuma ser recorrente em escritores que procuram pensar analiticamente sobre o que fazem, é que o produto do seu trabalho, ou seja, a sua obra literária, é feito por eles para eles mesmos. Se existe um público de leitores, isso é mera consequência. O artista se expressa através de sua arte devido à necessidade de uma satisfação própria.

Às vezes uma história nasce de algo que se ouviu casualmente, ao caminhar pelas ruas, ou de uma cena presenciada cotidianamente. O escritor busca tanto elementos da vida concreta como as sensações que esta vida provoca, misturando tudo e temperando com uma imaginação sensível, para ver nascer um trabalho literário.

O artista, ainda que seja movido pela intuição e pelo instinto, deve aprender a pensar, racionalizar e respeitar sua arte.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Bobagens à parte

A paisagem cultural em Caxias tem se mostrado frutífera nos últimos tempos. Além das produções executadas por antigos e novos talentos, estão surgindo também pessoas interessadas em analisar o que se tem realizado na apelidada “Princesa do Sertão”.
            Desde a sua concepção, a Causthica Revista Cultural tinha como objetivo a exposição de pontos de vista, de trabalhos acadêmicos, enfim, de mostrar à população em geral ideias e projetos que, por falta de um meio de transmissão, ficavam restritos ao conhecimento de poucas pessoas.
            Quando a Causthica se propôs a criticar as produções culturais da cidade, não intentava criar ciúmes, disputas ou julgamentos arbitrários. As análises e os interesses pessoais dos escritores não se misturavam e não se misturam.
            Recentemente, o meio artístico caxiense viu-se movimentado pela suposta criação de uma polêmica, envolvendo a Causthica e uma crítica sem rosto, chamada Sarah Reis (leia a crítica em www.sarahreiscritica.blogspot.com ). Por um lado, fico alegre que outras pessoas se interessem por escrever textos críticos. No entanto, entristeço-me verdadeiramente por ver que essa pessoa em particular não mostra sua identidade e seu texto tenta desmoralizar indivíduos com argumentos infantis e mal elaborados, sem nenhuma fundamentação, beirando (?) mesmo a baixaria.
            As ofensas não merecem réplica de minha parte, até porque não faz sentido pra mim, discutir com alguém sem rosto. Todavia, li um texto que muito me surpreendeu, devido à pouca idade de seu autor. Em resposta às acusações imaturas e ressentidas da crítica sem identidade, o jovem ator Bispo Jr. escreveu um longo texto, repleto de uma ironia debochada, em que ele contra-argumenta a “Crítica aos críticos” (veja o texto em www.issoemeda.blogspot.com ).
            Não era minha intenção gerar polêmica com um texto tão simplório como o que escrevi sobre a peça “Maria, Simplesmente Maria”. Mas, enfim, ao que tudo indica, fui mal interpretada. Meus critérios estéticos nada tem a ver com meu gosto pessoal – e quando falo em estética, não estou me referindo às pessoas que malham e fazem dietas, que fique bem claro, para que não haja confusão, como quanto ao conceito de linearidade que utilizei em outro texto. Meu compromisso é com a arte, com a qualidade do que está sendo empurrado nas gargantas das pessoas. E, tendo em vista esse objetivo, jamais seria tão ingênua ao ponto de permitir que minha vida pessoal interferisse nisso. Desde já, para quem não me conhece, esclareço que meu gosto é eclético e eu aprecio aquilo que é bom, independente do estilo.
            Para finalizar, parabenizo ambas as iniciativas, tanto de Sarah Reis (ou seja qual for seu nome) como a de Bispo Jr. e espero que eu não continue falando sozinha novamente, que os críticos mostrem seus textos e suas faces.
Thania Klycia.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010


Texto publicado no suplemento Guesa Errante do Jornal Pequeno




Rodrigues Marques: do maravilhoso ao cruel
 “A geografia do cérebro comporta histórias de nível mais elevado do que os que povoam o chão de nossa vizinhança.”
(Rodrigues Marques)
Thania Damasceno*
Osmar Rodrigues Marques foi um escritor ativo, que além de escrever constantemente, promovia eventos literários. Nasceu em Caxias, município do Maranhão, no dia 23 de janeiro de 1929. Na sua terra viveu a infância e publicou seu primeiro conto, aos doze anos de idade. Sua família era humilde -  a mãe era doceira e dona de casa e o pai, marceneiro e apicultor -  e era composta por mais quatro irmãos. Aos 21 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, com o intuito de alcançar um curso superior. Lá, apesar das dificuldades financeiras, superadas também com o apoio do irmão, conseguiu empregar-se e formar-se em Direito.
Mudou-se em 1968 para Niterói, local em que viveu até sua morte, em 26 de agosto de 1999. Trabalhou no Tribunal de Justiça como chefe de protocolo da corregedoria de justiça do Rio de Janeiro. Teve quatro filhos legítimos e três fora do casamento. Pouco antes de falecer, separou-se da esposa por curto período, vivenciando um romance com outra mulher. No entanto, quando do início das limitações geradas pela doença que o afligiu, já estava novamente na convivência da família, sendo pela mesma amparado até seu último olhar sobre a terra.
Possuidor de um espírito alegre, adotou o estilo de vida carioca, tornou-se amante do samba, e naqueles ares foi que sua vida literária se efetivou e onde também conheceu outros intelectuais, como a escritora Dinah Silveira de Queiroz - eleita em 1980 para a Academia Brasileira de Letras - que se tornou sua admiradora e amiga. Manteve contato também com a escritora Lygia Fagundes Telles, sendo a mesma uma influência contemporânea em sua obra. Cultivou grande amizade ainda como o poeta Déo Silva, seu conterrâneo.
 Rodrigues Marques atuou como jornalista, contista, romancista e novelista. Seus trabalhos foram todos escritos em prosa, contrariando a tradição de ter nascido em uma cidade que frutifica poetas, embora a poesia impere nas suas palavras não versadas. É patrono da cadeira de número 10 da Academia Caxiense de Letras.
O escritor caxiense enveredou também pela área das artes plásticas, criando, inclusive, algumas das capas de seus livros, como nas obras “Julieta, coisa e tal” e “De como José encontrou o mar e, ajoelhado, esperou as gaivotas”, trabalhos esses que podem ser incluídos numa estética modernista. A partir de 1956 envolveu-se em movimentos literários, organizando o Festival de Poetas Inéditos (Rio de Janeiro), fundando ainda a Editora Caminho. Foi incluído como verbete na reunião de biografias “Brasil e brasileiros de hoje”, de Afrânio Coutinho. Esteve em Caxias pela última vez em 1998, pouco tempo antes de falecer devido a complicações no fígado.
Como Dinah Silveira de Queiroz o apelidara, o contista autor de “Noite sem Limite” era um verdadeiro “papa-prêmios”, pois sua intensa dedicação ao mundo das palavras e da arte lhe rendeu a oportunidade de receber inúmeras láureas, tais como os prêmios: Orlando Dantas - IV Centenário do Rio de Janeiro; Graça Aranha (São Luís - MA); Ficção do Banco Regional de Brasília; Ficção do Governo do DF; Prêmio Adelino Magalhães (Rio de Janeiro) e o Prêmio Romance do Governo de Goiás, dentre outros.
Apesar de bastante premiado e dono de uma prosa acessível e de sucesso na geração que o acompanhou, esse caxiense radicado no sudeste do país permaneceu na marginalidade literária, sendo pouco conhecido atualmente, como se o seu nome não tivesse sido forte o suficiente para perdurar por mais tempo, o que, para um escritor tão sensível à vida que o cercava, vem a ser uma evidente injustiça.
Seu estilo é facilmente reconhecido, sendo dotado de uma linguagem fluida, descritiva, que passeia por cenas do cotidiano, sejam elas reais ou fantásticas. É fácil perceber no autor a intensa ligação existente entre sua escrita e o mundo que o rodeia. Embora sua literatura apresente traços do realismo mágico, os nomes e as referências aos lugares são frequentemente reais.
O início de sua obra apresentou a existência cotidiana e verossímil de personagens reais e característicos, em que o leitor pode reconhecer rapidamente uma tia, um vizinho ou um comerciante importante que vive verdadeiramente em cidades interioranas. A vida simples, vagarosa e miúda das cidades pequenas é um dos cenários mais constantes nas páginas de seus livros. Caxias, sua terra natal, e o Maranhão, na pele da cidade de São Luís, são descortinados aos olhos vivos do leitor. O Rio de Janeiro também figura entre os cenários das suas narrativas.
Rodrigues Marques chega a ser quase absolutamente fiel na composição do romance “Julieta, coisa e tal”, que se passa justamente em Caxias, denominada de “Princesa do Sertão”. O autor deu vida a personagens verídicos, como a própria protagonista da história, cujo nome ele conservou, embora negasse ser a sua Julieta a mesma Julieta que lhe agradeceu por ter sido homenageada através das páginas dos seus livros, quando Marques realizou o lançamento desse livro na sua cidade natal.
O livro retrata tão bem alguns fatos ocorridos na localidade que se tornou fonte para estudos historiográficos, pois a pensão “Casa Amarela”, onde Julieta mora, era uma conhecida casa de prostituição, hoje extinta. Acontecimentos como o que experimentou a personagem Maria Gorda, em que a mesma incendiou o próprio corpo devido ao fato de, sendo prostituta, ter tido a infelicidade de ter se apaixonado, embora aparentem ficção, foram realmente vivenciados pela sociedade caxiense no passado.
O cotidiano das prostitutas da região foi abordado de maneira singular na sua obra, sendo o escritor fiel aos fatos, descrevendo a situação de separação social em que elas viviam, estabelecendo também o contraste que as fazia serem ao mesmo tempo damas da noite e esquecidas pelos homens que compravam suas companhias femininas: “O enterro foi simples. Poucas pessoas. Somente algumas mulheres da Casa Amarela. Nenhum homem. As mulheres se revezavam nas alças do caixão. Julieta pensou: que destino; a vida inteira debaixo dos homens e, no fim, nenhum para acompanhar o enterro, ajudar a carregar o caixão”.   “Julieta, coisa e tal” não é apenas um romance nascido de uma mente astuta, mas o retrato de uma sociedade interiorana, pois nele se vislumbra nitidamente que o escritor escreveu o que conheceu de forma vívida.
Transitando entre o cotidiano verídico e o mundo maravilhoso, Rodrigues Marques não pode ser enquadrado em nenhuma dessas categorias. Seus romances e contos realistas contam sempre com uma pitada de magia, de inverossimilhança. O exagero da realidade, como no conto intitulado “Dilúvio”, que remete às enchentes, é um bom exemplo de como ele maneja a fronteira entre o real e o irreal. Outra característica sua é a presença de um humor anedótico, que brinca com a existência de pessoas simples e comuns, surpreendidas pela banalidade e o absurdo que a vida lhes oferece.
Esse humor é constantemente encontrado nos seus contos, nos quais o autor migra com frequência para estilos diferentes de escrever. Num momento ele nos apresenta o cotidiano amargo, seco, oriundo da vida simples. Noutra abordagem ele já nos mostra o quanto de lúdico reside em tudo isso, como é possível perceber no conto “O homem que perdeu um peru”. Na obra “O sino de Madagascar”, por sua vez, utiliza a repetição de personagens, como se os mesmos pertencessem à realidade. Marques ainda viaja pelo surreal, através de uma narrativa desconexa e absurda, repleta de poesia e beleza.
Essa linguagem está presente em quase todos os contos publicados em “Eles pensam que eu tenho medo de ter medo” e em “De como José encontrou o mar e, ajoelhado, esperou as gaivotas”: “José de Ribamar apalpou o embrulho que o acompanhava e retirou dele um velho jornal lido e relido durante muitas tardes e muitas noites. Abanou-se com ele e as letras voaram das páginas. Como milhares de formigas, começaram a caminhar pelo seu corpo. Era um contínuo atropelar de sílabas – formigas que se encontravam formando palavras só de consoantes, só de vogais. Aflito com as cócegas que as letras do jornal produziam no seu corpo, José de Ribamar sacudiu-se como um cavalo que houvesse rolado muito tempo na areia e atirou, novamente, no jornal, as letras dele fugidas.” Seus personagens são na maioria pessoas de classe média, casais mastigados pelo tempo, mulheres e homens cheios de paixão, presos numa vida insólita em que as coisas simples são as impressões colhidas pela mente observadora e captora da vida que circula, como se Rodrigues Marques fosse um deus que observa de longe e brinca com aquilo que vê.  
Em “Duas mulheres de Terramor, o estilo do autor se consolida na busca pelo maravilhoso e pelo poético. Nas metáforas vivas criadas por ele, é possível capturar a vagarosidade da vida, a esperança de que algo importante possa algum dia acontecer. Antuza, mulher jovem, aguarda o dia em que “O Homem Que Trouxe As Bandeiras” aparecerá para finalmente pedi-la em casamento, enquanto o “Noivo” sonha em um dia poder agradar o coração da moça, que vive solitariamente com a mãe em um casarão onde as vacas pastam no terceiro andar. Artemiza, velha, e contando apenas com a companhia da sua filha Antuza, anseia por um amor carnal jamais alcançado, comprando as carícias de um amante, “O Rapaz De Vinte Anos”. O contraste pintado pelas mãos habilidosas da imaginação do escritor fez a filha, jovem e desejada, passar a vida sentada em uma cadeira de balanço, sob uma amendoeira, a divagar preguiçosamente, enquanto a mãe, envelhecida sem amor, viúva de um casamento arranjado que nunca lhe deu felicidade, vagueia ansiosamente à procura do jovem que ela julga capaz de satisfazer sua carência.
A virgindade de Antuza é guardada para um homem que ela não conhece, mas que é conhecido em toda a cidade por ter muitas mulheres em sua cama e por desvirginá-las sem dor, fazendo uso de mel de abelha. Quando o “Noivo” foi finalmente escolhido para libertar a noite que a jovem aprisionava no casarão, apesar da vida que havia dentro do cômodo, quando ele abriu as janelas e percebeu que não havia sequer poeira e que tudo estava absolutamente limpo, a perda da virgindade dela é coroada com a morte dele, que realizava aquele desejo antigo sem felicidade, por saber que verdadeiramente não possuía Antuza, que só sabia pensar no “Homem Que Trouxe As Bandeiras”. O maravilhoso, o absurdo e o cotidiano simples se misturam na narrativa.
Ao mesmo tempo em que fatos surreais acontecem – como o morto que é oferecido pela viúva para ser chibatado por aqueles a quem o mesmo devia dinheiro em vida, e o nevoeiro que tomou conta da cidade de tal forma que as pessoas não se enxergavam –, a monotonia da rotina toma conta dos dias: “Fazia um balanço: Terramor da sua infância em nada mudara. Fisicamente. As mesmas ruas, o mesmo rio com velhos barcos descoloridos, sempre as mesmas caras morenas, cheirando a madeira. A sua vida também, mudara pouco: quase sempre igual”. E, ainda que “Terramor” represente uma cidade imaginária, permanece repleta de elementos que nos remetem às origens do ficcionista, tais como descascar macaxeira e chupar pitombas, por exemplo.
A juventude de Antuza era desperdiçada nos sonhos, enquanto a velhice de Artemiza se esvaía através dos mesmos. A jovem, ao final da narração, perdidas as esperanças de sua existência frustrada de acontecimentos sublimes, entrega-se placidamente a uma morte dolorosa, sob as patas das vacas que pastavam no terceiro andar do casarão, justamente quando aquele a quem ela esperou a vida toda finalmente sai em seu encalço. “Como sempre suspeitara, a morte era ir se deixando pelo caminho, como alguém que carregasse areia num saco furado.” Contraditoriamente, Artemiza, a velha, de pele já enrugada e murcha, abandonada pelo jovem amante o qual ela pagava o amor com as vacas que criava, em vez de entregar-se ao fim, acredita estar grávida, sente enjôos e vê o ventre crescer paulatinamente – fato que Antuza atribui à presença de vermes em seu organismo.
Então sua vida se torna uma constante procura, um vagar que não perde a esperança de alcançar o que deseja. “Enquanto Antuza enfrentava a dor – a dor seca que a fazia encolher-se sob o lençol – Artemiza perambulava pelas ruas do outro lado da cidade, o ventre cada vez aumentando mais, os nove meses já muito ultrapassados, beirando um ano [...]”. Artemiza era prenhe da própria existência que não desistia de existir. Nem mesmo a velhice que lhe roubava a força era capaz de tirar-lhe o fôlego da vida.
Rodrigues Marques foi um homem que se dedicou ao amor pela literatura. Escreveu com sangue, oferecendo sua alma aos leitores sedentos de vida, doando-nos sua mente em cada página. O simples e o complexo se copulam em sua obra, parindo um mundo novo, ao mesmo tempo maravilhoso e cruel.

Bibliografia
 Noite sem Limite (contos, Rio de Janeiro, 1954).
Chão do Inferno (romance, Rio de Janeiro, 1957).
Os quatro filhos do Papa (contos, Rio de Janeiro, 1959).
Linha do Vento (novela, Rio de Janeiro, 1963).
Os recém-casados ou Amor de cama e mesa (novela, Rio de Janeiro, 1968).
Geografia do vão território (romance, Brasília, 1972).
Duas mulheres de Terramor (romance, Rio de Janeiro, 1976).
O sino de Madagascar (contos, Rio de Janeiro, 1976).
De como José encontrou o mar e, ajoelhado, esperou as gaivotas (contos, Rio de Janeiro, 1981).
Julieta, coisa e tal (romance, Rio de Janeiro, 1986).
Eles pensam que eu tenho medo de ter medo (contos, Rio de Janeiro, 1995).

*Contista, graduanda em História pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA (Caxias).