Caxias do Maranhão é uma cidade que, ainda hoje, serve de referência para o país quando o assunto é a Literatura. É o berço de uma considerável plêiade de escritores e poetas de grande expressão no Brasil, a exemplo de Gonçalves Dias, Coelho Neto, Teófilo Dias, Vespasiano Ramos, Raimundo Teixeira Mendes, César Marques e muitos outros de uma constelação de literatos que brilha desde meados do século XIX e dois dos quais – Gonçalves Dias e Teófilo Dias - são patronos de cadeiras na Casa de Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras. Mas, Caxias insiste em dar à luz a novos escritores e poetas e pode ser chamada, sem exageros de “cidade maranhense dos escritores e poetas”, dentre os quais: Jacques Medeiros, Edison Vidigal, Firmino Freitas, Libânio da Costa Lobo, Adailton Medeiros, Déo Silva, Cid Teixeira de Abreu, Naldson Carvalho, Renato Meneses, Jorge Bastiani, Quincas Villaneto, e outros tantos...
Porém, nesses últimos anos, Caxias tem perdido alguns desses seus bens humano-culturais, que tanto iluminavam e davam energia às gerações mais novas de continuar a teimar em cultuar, especialmente, à poesia, dentre os quais: Déo Silva, Cid Teixeira de Abreu e Adailton Medeiros, que, para ambos, o poema era o próprio homem retratado através de letras no papel. Dois deles pediram-me, ainda, em vida, que eu escrevesse sobre suas vidas – Déo e Cid – e, assim, eu os obedeço, agora, neste periódico.
Mas, ser poeta e ser o quê? Segundo o sábio professor, escritor, poeta e jornalista maranhense, Alberico Carneiro: “se é atualíssima, ainda, hoje, a teoria de Aristóteles sobre a arte da poesia ou da poética, apresentando-a como imitação, transformação ou mutação da realidade vista por outro ângulo, o poeta é uma espécie de mago, feiticeiro, bruxo ou encantador. Desse ponto de vista, ele, o poeta, pode transfigurar a linguagem da semântica, isto é: fazer com que as palavras, à maneira dos camaleões, passem por um processo mimético ou do mimetismo. E, assim, como camaleão que, para preservar-se dos predadores mais perigosos, adapta a coloração da pele à cor do ambiente, para fingir e confundir-se com a paisagem, também o poeta faz com que as palavras imitem a realidade, procurando inseri-las no contexto semântico que corresponda à contemporaneidade.
O poeta português, Fernando Pessoa, traduz esse paradoxo ou ambiguidade aristotélica sobre o ato da imitação à realidade: “o poeta é um fingidor/finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.
Já o poeta ludovicense, Nauro Machado, outro ser humano-cultural incompreendido em seu tempo, se confessa e, portanto, explica-nos: “a dor de ser poeta/ do ser fatal/ a dor de ser feroz/ é instante só/ mas que no ser demora e dura e fere/ para que mais doa”.
Déo, Cid e Adailton, tiveram essas performances em suas personalidades literárias e, por isso, talvez, não foram compreendidos na essência de suas vidas.
Eis, a seguir, as breves biografias de Déo Silva, Cid Teixeira
e uma análise sobre Adailton Medeiros:
O poeta de vanguarda
Raymundo Nonato da Silva, conhecido nos meios literários pelo pseudônimo de Déo Silva, nasceu em Caxias a 15 de agosto de 1937 e era filho de Jefferson Antônio da Silva e de Araçay Carneiro da Silva. Seus estudos se iniciaram com o curso primário, concluído no Grupo Escolar Gonçalves Dias em Caxias-Maranhão. O curso ginasial, iniciado no Colégio Caxiense não chegou a concluí-lo.
Autodidata, tinha um verdadeiro fascínio pela Gramática e possuía um estilo incomum quando escrevia. Militou, nos primórdios de sua carreira literária, como jornalista, integrando o corpo redacional dos principais jornais de São Luis, entre os anos 1953 e 1954. Foi redator-chefe do Suplemento Literário do “Diário da manhã” de 1957 a 1959. Atuou como locutor-redator, nas rádios: Ribamar, Timbira e Difusora em São Luis entre 1953 a 1958.
Lançou seu primeiro livro: “ÂNGULO NOTURNO” (prosa e poesias em 1959, obra que, de certo modo, revolucionou as letras maranhenses, inclusive por apresentar experiências gráfico-jornais. Fez parte, ao lado de Bandeira Tribuzzi, Ferreira Gullar, Nauro Machado e José Chagas, do Movimento Concretista, que se esboçou no Maranhão, imprimindo a força e o vigor do seu talento.
Ao tempo em que era chefe regional da Carteira de Crédito Agrícola e industrial do Banco do Brasil S/A (CREAI), divulgou, através da imprensa, um trabalho de pesquisa sócio-econômico pertinente à cidade de Pinheiro, na baixada maranhense, tendo com resultado uma alteração substancial e proveitosa na vida creditícia e produtora daquela região. Em 1970 se ausentou do Maranhão durante seis anos. Em Manaus, vinculado ao Clube da Madrugada, órgão que congrega os escritores daquela região, publicou, através da imprensa, vários artigos e poemas que obtiveram grande receptividade.
Participou, em 1973, da Primeira mostra de Arte Concreta Brasileira, realizada em Fortaleza-Ceará. Representando o Estado do Maranhão, apresentou, ao ensejo, o produto de suas pesquisas estéticas, veiculadas após pela imprensa alencarina. Participaram nesse conclave autores de nome nacional como Décio Pignatari, Goebel Weyne e outros.
Em 30/10/1977, recebeu do “Clube Recreativo Caxiense”, o diploma de poeta-filósofo. Em 31/07/1978 recebeu, em Teresina, o certificado de “Homem de Ouro”, de preferência pública, pela sua atuação literária durante aquele ano. Em 30/07/1979, indicado pela Presidência da extinta, Fundação Cultural do Maranhão, de quem era Assessor, participou, com destaque, do “Seminário como Núcleo de Altos Estudos Amazônicos”, promovido pela Universidade Federal do Maranhão.
Conhecedor da região amazônica , onde fez diversificadas pesquisas, lá assistiu, na tribo dos Ticunas, à festa da “Menina moça”. E o Cacique, na oportunidade, deu-lhe, de presente, um colar (trabalho artesanal) contendo as mais importantes aves e répteis da região, feitos de tucum. Em 1980 foi publicado seu segundo livro “EQUAÇÃO DO VERBO” (prosa e poesia), obra premiada através do plano Editorial – 80, FUNC/SIOGE.
Figura, com certo mérito, em vários livros de crítica. O respeitável escritor brasileiro Walmir Ayala, através do Jornal do Brasil (Rio) assim se expressou relativamente à poesia de DÉO: “labiríntico exercício de ser uma certa melancolia, tendendo à poesia pura”.
Suas atividades no Banco do Brasil nos Estados do Maranhão (Caxias e Pinheiro), Pará ((Marabá), Amazonas (Tefé) e São Paulo (Jaboticabal), foram marcadas pelo seu talento criativo e renovador. Foi chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Caxias (1977-1978). Assessor da Provedoria do Hospital “Miron Pedreira” em Caxias de 1976 à 1978. Exerceu o cargo em Comissão de Assessor Cultural do Departamento de Assuntos Culturais da Fundação Cultural do Maranhão.
Déo faleceu a 27 de setembro de 1983.
Obras Inéditas:
1. “NUVENS DO FANTÁSTICO” (estórias e lendas);
2. “HISTÓRIA DAS IGREJAS DE CAXIAS”;
3. “GRANDEZA E MISTÉRIO DO AMAZONAS” (prosa);
4. “ESCADA DE BETEL” (poesia);
5. “DJÉBEL” (poesia);
6. “COISA DAS COISAS” (poesia);
7. “PACTO E IMPACTO”;
8. “O MARANHÃO E A GRAMÁTICA”, (estudo crítico).
Um poema de Déo Silva:
Fotografia
eis minha angústia
perto da manhã,
a crescer, como um arbusto,
na planície vã.
D.S.
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O filósofo poeta
Cid Teixeira de Abreu nasceu na comunidade Alto dos Negros da cidade de Caxias do Maranhão, em 02 de julho de 1937. Era filho de João Luiz de Abreu e Amélia Assunção Teixeira de Abreu.
A escolaridade de Cid Teixeira de Abreu foi iniciada em sua terra natal, onde cursou o primeiro grau no Grupo Escolar Coelho Neto. Posteriormente, já em terras alterosas, na capital, precisamente, Belo Horizonte, concluiu os segundo e terceiro graus no Colégio Marconi e Universidade Federal de Minas gerais; habilitando-se com o Bacharelato em Filosofia. Porém, para enriquecimento dos seus conhecimentos, Cid Teixeira de Abreu tornou-se pós-graduado em Especialização da Educação pela Universidade Federal do Piauí, na qual fora exímio membro de seu corpo docente.
Na vida funcional, o ilustre filósofo e mestre caxiense, Cid Teixeira de Abreu, exerceu atividades como professor de filosofia no Colégio Ângelo Roncalli, na capital mineira, Belo Horizonte; em sua cidade, Caxias do Maranhão, no Ginásio Caxiense, no Colégio São José, na Faculdade de Educação de Caxias e, ainda, em Teresina; na Universidade Federal do Piauí.
Filosoficamente, além da docência, Cid Teixeira de Abreu inseriu-se no campo literário e, nele, construiu uma vasta obra no gênero da poesia moderna e de cordel. Publicou seu primeiro livro de poesias em 1961, intitulado Poemas I, depois vieram Terra-Terrão, em 1985; Moenda, em 1986 e Ulysses & Outros Motivos, em 1995. Em cordel, lançou A Função Social do Cordel, em 1995; O Galo, em 1995; A Balaiada, em 1996; Ilustração Eleitoral, em 1996; Caxias, em 1997; Mangueira, em 1997; A Máquina de Votar, em 1998. Participou, também, em várias Antologias Poéticas, dentre as quais: Poetas Brasileiros de Hoje, em 1985; Visão Histórica da Literatura Piauiense, em 1991; Escritores e Poetas de Todos os Tempos, em 1993; Dicionário Biográfico de Escritores e Poetas, em 1995; Baião de Todos, em 1996, Andarilhos da Palavra, em 2000.
Cid Teixeira de Abreu foi membro fundador da Academia Caxiense de Letras com assento na Cadeira nº 05, cujo patrono é Vespasiano Ramos. Como literato, ganhou inúmeros prêmios institucionais de poesia: Diário de Minas, Jornal dos Livros, União Nacional dos Estudantes, Clube da Poesia e Prêmio Internacional de Poesia Americana (Colorado, EUA ). Cid Teixeira de Abreu desapareceu, em 10 de dezembro de 2004; um dia após ter sido homenageado pela Câmara Municipal de Teresina, capital do Piauí com a distinção de “Cidadão Teresinense”.
Um poema de Cid Teixeira de Abreu:
Ulisses & outros motivos
simplesmente ir como coisa entre coisas
a dizer que a trilha ofusca e brilha
em cada passo sem marcas.
seguir
sem que os passos encontrem o eco dos sapatos
C.T.A.
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Sobre Adailton Medeiros, com quem estive apenas em duas ocasiões, o jornalista e escritor carioca, Canha Silva Filho, fez a análise que se segue:
O monge poeta
Adailton Medeiros, poeta no superior sentido da palavra, poeta criativo, inserido na modernidade, vindo da Vanguarda chamada Práxis, surgida no ano de 1962. Como salienta Assis Brasil no seu utilíssimo Vocabulário técnico de literatura (Edições de Ouro, 1970), aquele movimento inovador, inaugurado por Mário Chamie, constituiu com o Concretismo de 1956 e o Poema-Processo (1967) os “três movimentos de Vanguarda no Brasil”
A sua evolução poética não o limitou ao praxismo. As vanguardas são válidas, porém passam. Deixam lições, processos novos de poeticidade e, no final, seus adeptos mudam de rumo em direção a seus próprios caminhos, ou seja, procuram uma poesia que atenda ao valor da palavra, do verso e do discurso, mas, na geral, as marcas espácio-gráficas parecem insinuar-se nas novas formas da produção poética. A sintaxe e o espaço livre da página, a extensão das linhas do verso, alguns recursos grafemáticos voltam a integrar os novos processos, técnicas, dicções e vozes da poesia contemporânea, nacional ou universal.
Adaílton Medeiros deixou 9 obras, 5 no gênero poético e 4 distribuídas em ficção, uma novela, Revoltoso Ribamar Palmeira (Rio de Janeiro: Matavalos, 1978); Braçadas de palmas (discurso), Rio de Janeiro: ACLERJ, 1981); Floração de Minas (discurso), Rio de Janeiro: AbdL, 1982); Quatro ensaios In: Samuel, Rogel.(org.). Literatura básica. Petrópolis: Vozes, 1985, v. 1. Poesia: O sol fala aos sete reis das leis das aves. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972; ; Cristó’ vão Cristo: Imitações.São Luís/Rio de Janeiro: Coleção Azulejo, 1976; ; Poema Ser Poética, texteoria. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982: Lição do mundo. Rio de Janeiro, Edição. Sete, 1992; Bandeira vermelha. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2001.
Adailton Medeiros foi jornalista, professor ( por pouco tempo) e atuou no setor privado. Essencialmente, era poeta. Pertenceu à Academia Brasileira de Literatura, Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro e Academia Caxiense de Letras, (Caxias, MA). Era sócio dos Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro. Pertencia à Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Academia de Letras de Uruguaiana (RS), ao Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, à Academia Internacional de Ciências Humanísticas. Membro vitalício da IWA - International Writers and Artists Association (USA). Sua poesia se encontra em antologias e periódicos nacionais e internacionais.
Adailton Medeiros faleceu a 09 de março deste ano de 2010.
Um poema de Adailton Medeiros:
O SINO
“O sino bate
dentro de mim
O sino toca
na Catedral
ou no Mosteiro
Agora, o sino soa
surdo por mim” A.M.
“O sino bate
dentro de mim
O sino toca
na Catedral
ou no Mosteiro
Agora, o sino soa
surdo por mim” A.M.
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O SINO
O sino bate
dentro de mim
O sino toca
na Catedral
ou no Mosteiro
Agora, o sino soa
surdo por mim
O sino bate
dentro de mim
O sino toca
na Catedral
ou no Mosteiro
Agora, o sino soa
surdo por mim
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