domingo, 4 de julho de 2010

A derrota do Brasil e os brasileiros

Futebol não está incluído na minha lista de paixões, nem em época de copa do mundo, mas precisa-se reconhecer o significado que um título mundial tem para os brasileiros. A saída da seleção brasileira da competição sempre é trágica.
As ruas enfeitadas parecem agora uma ofensa à população que vibrava diante da ideia da conquista de mais uma vitória. O comércio está impregnado de objetos verde e amarelos que não serão mais vendidos neste ano. Esse desejo de conquista já faz parte da identidade dos brasileiros, queiramos ou não. O futebol é uma das poucas formas com que o nosso país recebe algum reconhecimento positivo exterior.
Ganhar a copa do mundo é uma questão de identidade e de autoestima para a população brasileira. É um dos poucos momentos em que o brasileiro –seja por ilusão ou não – sente orgulho de fazer parte desta nação.
Em época de copa as pessoas desembestam, ficam loucas, fanáticas e até ridículas, sem se importar. O patriotismo é sugerido não só pela indução da mídia, que provoca reações desprovidas de reflexão crítica, mas pela oportunidade restrita de poder sentir orgulho do país em que vive.
O brasileiro não se orgulha da violência urbana, da corrupção política, da desigualdade social, enfim, de todas as mazelas que já fazem parte do cotidiano das pessoas, que são obrigadas a conviver com o medo, com a pobreza, com a frustração etc. Não se pode ser patriota em outras épocas, porque não há muito do que se orgulhar quando não se é um país desenvolvido.
Vale lembrar também o papel do futebol na construção do sentimento nacionalista brasileiro, utilizado durante a ditadura militar, que lançou a figura de Pelé e propagou slogans de “Brasil, país do futebol” e “Pra frente, Brasil, Salve a Seleção”. Pensando nesse sentido, o futebol é também uma maneira de desviar a população dos problemas enfrentados pela mesma.
Pode-se fazer referência à velha política do pão e circo, já que as pessoas se divertem e se satisfazem em orgulho nacionalista enquanto o país caminha com uma perna só. A ideia de pautar esse orgulho no futebol é perpetuada na contemporaneidade e assim a copa do mundo continuará como um dos maiores eventos das vidas nossas.
Torcer pela seleção brasileira se constituiu um verdadeiro dever da população. A mídia incentiva a torcida, e as pessoas aderem. Perder o título não é uma questão pertinente à competição, mas à própria construção do sentimento patriótico brasileiro, que se sustenta no fato de realizar boas partidas de futebol. A tradição do futebol no Brasil não se resume aos jogos em si, mas desliza pelos sentimentos das pessoas, que levantam a bandeira com lágrimas pelo rosto. Esse sentimento também foi forjado, embora não percebamos isso facilmente.
O significado da derrota brasileira - sem mencionar as construções vomitadas pela mídia na massa - extrapola a ausência de um título e percorre a existência de todos aqueles que depositaram esperanças vazias de dias melhores na conquista do hexa.

Um comentário:

  1. adorei uh texto...
    mas me diz uma coisa, a gente precisa pensar tão igual assim?...kkkk'
    qndo vs ler uh meu, vai quase reler uh seu...
    incrivel! shuashsuh


    bjos'

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