sábado, 26 de junho de 2010

FAZER PARTE: ESSE É O LEMA

Texto publicado na página Folha Cult, do Jornal Folha do Leste

Nestes dias em que as pluralidades imperam, em que os indivíduos procuram estabelecer uma identidade, demarcando os territórios, a massa, tão criticada pelos intelectuais, tem se assumido cada vez mais e declarado: “Eu quero fazer parte da massa”.
A massa, esse conceito tão badalado pelos teóricos, pode ser traduzida de maneira superficial como sendo aquela velha ovelhinha que segue o rebanho sem perguntar pra onde está indo.  E hoje, mais do que nunca, a massa se conscientiza da própria existência. E se orgulha de ser massa.
As pessoas criam uma identidade própria, na intenção de se singularizarem. No entanto, no fundo, estão buscando cada vez mais serem  iguais umas às outras. Os adolescentes, por exemplo, pintam os cabelos, usam óculos estranhos, roupas estranhas, um vocabulário próprio. Mas, se formos analisar, todos eles vestem-se e portam-se de maneira igual, seguindo uma tendência que os identifica a olho nu como pertencentes a um grupo.
Aliás, falando em moda, esse é um outro aspecto da sociedade atual que se relaciona diretamente com o fenômeno de inclusão da massa. Seguir a moda se tornou algo tão essencial que o mercado não oferece produtos diferenciados. A clientela prefere aquilo que está “na moda”, e isso reflete um desejo inconsciente de agrupamento, de igualdade. É como se as pluralidades existentes impelissem todos a uma vontade de “fazer parte de um todo”.
Sendo assim, é mais interessante usar a bolsa que a personagem da novela usa, e que todas as mulheres estão usando, do que comprar um acessório que ninguém utiliza, que não caiu no gosto do povo. Essa bolsa que todo mundo tem demonstra o desejo de inclusão de quem a exibe nas mãos. Desse modo, ao topar na rua com outra mulher que possui o mesmo objeto, ocorrerá um sinal de indentificação: nós estamos incluídas, nós nos entendemos porque gostamos das mesmas coisas.
Aquelas pessoas que não forjam a própria personalidade de acordo com as tendências acabam por ficar à margem, sem opção, ou se veem obrigadas a usar o produto que todo mundo usa. A moda transforma-se em uma ditadura, uma imposição. As pessoas já estão programadas para consumir os produtos indicados pelas mídias. Em vez de protestarem, mostram-se cada vez mais à vontade, declarando sem saber : ”Eu preciso ser da massa”.
Cada vez mais, portanto, encontraremos indivíduos semelhantes que se acreditam singulares. Na corrida do consumo, vence quem consegue manter-se de acordo com as tendências. Vence aquele que ouve o que todo mundo ouve, que veste o que todo mundo admira porque se veste igual. O grande campeão é aquele que é capaz de estar perfeitamente dissolvido no angu da massa.  
 

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