Na última terça, dia 10 de agosto, foi comemorado na Praça Gonçalves Dias o aniversário do poeta que dá nome à praça e que figura como um dos maiores símbolos da nossa cidade. Diante da estátua do literato, foram colados “cartazes” e uma banda tocava algumas músicas. Esta foi a comemoração até o momento em que presenciei, pois não foi possível me deter por mais tempo em evento tão enfadonho.
A cidade de Caxias perde cada vez mais o seu contato com a preservação das tradições. O maior poeta da cidade, reconhecido no Brasil inteiro, foi festejado com uns cartazes de papel chamex e uma banda na praça. O evento sequer foi divulgado. Eu me fiz presente por um mero acaso.
O tempo passa e o que vemos é a superficialidade se alastrar até nos eventos culturais. Ao que parece, os setores responsáveis por preservar e disseminar a cultura na cidade ou são desinformados ou são indiferentes mesmo. Se forem desinformados, pecam porque têm a obrigação de conhecer o sâmbito em que atuam. E se forem indiferentes, estão ocupando o lugar errado.
Caxias é uma cidade que possui grande potencial artístico e cultural, que entretanto está sendo subutilizado. É uma vergonha para todos aqueles que se debruçam sobre o patrimônio imaterial da nossa região.
Futebol não está incluído na minha lista de paixões, nem em época de copa do mundo, mas precisa-se reconhecer o significado que um título mundial tem para os brasileiros. A saída da seleção brasileira da competição sempre é trágica.
As ruas enfeitadas parecem agora uma ofensa à população que vibrava diante da ideia da conquista de mais uma vitória. O comércio está impregnado de objetos verde e amarelos que não serão mais vendidos neste ano. Esse desejo de conquista já faz parte da identidade dos brasileiros, queiramos ou não. O futebol é uma das poucas formas com que o nosso país recebe algum reconhecimento positivo exterior.
Ganhar a copa do mundo é uma questão de identidade e de autoestima para a população brasileira. É um dos poucos momentos em que o brasileiro –seja por ilusão ou não – sente orgulho de fazer parte desta nação.
Em época de copa as pessoas desembestam, ficam loucas, fanáticas e até ridículas, sem se importar. O patriotismo é sugerido não só pela indução da mídia, que provoca reações desprovidas de reflexão crítica, mas pela oportunidade restrita de poder sentir orgulho do país em que vive.
O brasileiro não se orgulha da violência urbana, da corrupção política, da desigualdade social, enfim, de todas as mazelas que já fazem parte do cotidiano das pessoas, que são obrigadas a conviver com o medo, com a pobreza, com a frustração etc. Não se pode ser patriota em outras épocas, porque não há muito do que se orgulhar quando não se é um país desenvolvido.
Vale lembrar também o papel do futebol na construção do sentimento nacionalista brasileiro, utilizado durante a ditadura militar, que lançou a figura de Pelé e propagou slogans de “Brasil, país do futebol” e “Pra frente, Brasil, Salve a Seleção”. Pensando nesse sentido, o futebol é também uma maneira de desviar a população dos problemas enfrentados pela mesma.
Pode-se fazer referência à velha política do pão e circo, já que as pessoas se divertem e se satisfazem em orgulho nacionalista enquanto o país caminha com uma perna só. A ideia de pautar esse orgulho no futebol é perpetuada na contemporaneidade e assim a copa do mundo continuará como um dos maiores eventos das vidas nossas.
Torcer pela seleção brasileira se constituiu um verdadeiro dever da população. A mídia incentiva a torcida, e as pessoas aderem. Perder o título não é uma questão pertinente à competição, mas à própria construção do sentimento patriótico brasileiro, que se sustenta no fato de realizar boas partidas de futebol. A tradição do futebol no Brasil não se resume aos jogos em si, mas desliza pelos sentimentos das pessoas, que levantam a bandeira com lágrimas pelo rosto. Esse sentimento também foi forjado, embora não percebamos isso facilmente.
O significado da derrota brasileira - sem mencionar as construções vomitadas pela mídia na massa - extrapola a ausência de um título e percorre a existência de todos aqueles que depositaram esperanças vazias de dias melhores na conquista do hexa.
Texto publicado na página Folha Cult, do Jornal Folha do Leste
Nestes dias em que as pluralidades imperam, em que os indivíduos procuram estabelecer uma identidade, demarcando os territórios, a massa, tão criticada pelos intelectuais, tem se assumido cada vez mais e declarado: “Eu quero fazer parte da massa”.
A massa, esse conceito tão badalado pelos teóricos, pode ser traduzida de maneira superficial como sendo aquela velha ovelhinha que segue o rebanho sem perguntar pra onde está indo. E hoje, mais do que nunca, a massa se conscientiza da própria existência. E se orgulha de ser massa.
As pessoas criam uma identidade própria, na intenção de se singularizarem. No entanto, no fundo, estão buscando cada vez mais serem iguais umas às outras. Os adolescentes, por exemplo, pintam os cabelos, usam óculos estranhos, roupas estranhas, um vocabulário próprio. Mas, se formos analisar, todos eles vestem-se e portam-se de maneira igual, seguindo uma tendência que os identifica a olho nu como pertencentes a um grupo.
Aliás, falando em moda, esse é um outro aspecto da sociedade atual que se relaciona diretamente com o fenômeno de inclusão da massa. Seguir a moda se tornou algo tão essencial que o mercado não oferece produtos diferenciados. A clientela prefere aquilo que está “na moda”, e isso reflete um desejo inconsciente de agrupamento, de igualdade. É como se as pluralidades existentes impelissem todos a uma vontade de “fazer parte de um todo”.
Sendo assim, é mais interessante usar a bolsa que a personagem da novela usa, e que todas as mulheres estão usando, do que comprar um acessório que ninguém utiliza, que não caiu no gosto do povo. Essa bolsa que todo mundo tem demonstra o desejo de inclusão de quem a exibe nas mãos. Desse modo, ao topar na rua com outra mulher que possui o mesmo objeto, ocorrerá um sinal de indentificação: nós estamos incluídas, nós nos entendemos porque gostamos das mesmas coisas.
Aquelas pessoas que não forjam a própria personalidade de acordo com as tendências acabam por ficar à margem, sem opção, ou se veem obrigadas a usar o produto que todo mundo usa. A moda transforma-se em uma ditadura, uma imposição. As pessoas já estão programadas para consumir os produtos indicados pelas mídias. Em vez de protestarem, mostram-se cada vez mais à vontade, declarando sem saber : ”Eu preciso ser da massa”.
Cada vez mais, portanto, encontraremos indivíduos semelhantes que se acreditam singulares. Na corrida do consumo, vence quem consegue manter-se de acordo com as tendências. Vence aquele que ouve o que todo mundo ouve, que veste o que todo mundo admira porque se veste igual. O grande campeão é aquele que é capaz de estar perfeitamente dissolvido no angu da massa.
Na quinta, dia 26, aconteceu uma reunião encabeçada por jovens escritores caxienses, no salão da Academia Caxiense de Letras, com a finalidade de realizar leituras e discussões sobre literatura. Na ocasião, foram lidos poemas de Cecília Meireles, que suscitaram comentários e discussões. Este encontro foi a primeira realização de um projeto que pretende que em todas as quintas sejam organizadas reuniões de cunho artístico e cultural no local.
A ideia surgiu da necessidade percebida pelo grupo, já que as manifestações do gênero na cidade são escassas e nunca possuem continuidade. O evento será realizado semanalmente e será aberto ao público participante ou ouvinte. A cada semana um escritor é escolhido pelos participantes para ser estudado.
Como a maioria dos idealizadores do projeto são escritores ainda sem publicação de livros, no final de cada sessão, serão distribuídos jornais produzidos pelo próprio grupo, formado por Thania Klycia, Stênio França, Júnior Magrafil, Bispo Jr. e Estefânio Silva. O periódico, denominado Jornal Influenza é confeccionado de maneira ainda artesanal, apresenta as produções literárias daqueles que frequentam o evento, contendo textos em prosa ou em verso.
As publicações do Jornal Influenza se estendem a novos participantes. A finalidade do mesmo é divulgar e discutir a produção literária caxiense entre os próprios caxienses, promovendo não só o incentivo para o surgimento de novos escritores e leitores, como também a melhoria na qualidade das produções locais, a partir dos estudos e discussões realizados.
O segundo poeta abordado nas discussões foi Mario Quintana.
A terceira edição do evento contou com a presença do poeta ludovicense Paulo Melo Sousa e com a performance poética de Richter Wenzel.
Caxias do Maranhão é uma cidade que, ainda hoje, serve de referência para o país quando o assunto é a Literatura. É o berço de uma considerável plêiade de escritores e poetas de grande expressão no Brasil, a exemplo de Gonçalves Dias, Coelho Neto, Teófilo Dias, Vespasiano Ramos, Raimundo Teixeira Mendes, César Marques e muitos outros de uma constelação de literatos que brilha desde meados do século XIX e dois dos quais – Gonçalves Dias e Teófilo Dias - são patronos de cadeiras na Casa de Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras. Mas, Caxias insiste em dar à luz a novos escritores e poetas e pode ser chamada, sem exageros de “cidade maranhense dos escritores e poetas”, dentre os quais: Jacques Medeiros, Edison Vidigal, Firmino Freitas, Libânio da Costa Lobo, Adailton Medeiros, Déo Silva, Cid Teixeira de Abreu, Naldson Carvalho, Renato Meneses, Jorge Bastiani, Quincas Villaneto, e outros tantos...
Porém, nesses últimos anos, Caxias tem perdido alguns desses seus bens humano-culturais, que tanto iluminavam e davam energia às gerações mais novas de continuar a teimar em cultuar, especialmente, à poesia, dentre os quais: Déo Silva, Cid Teixeira de Abreu e Adailton Medeiros, que, para ambos, o poema era o próprio homem retratado através de letras no papel. Dois deles pediram-me, ainda, em vida, que eu escrevesse sobre suas vidas – Déo e Cid – e, assim, eu os obedeço, agora, neste periódico.
Mas, ser poeta e ser o quê? Segundo o sábio professor, escritor, poeta e jornalista maranhense, Alberico Carneiro: “se é atualíssima, ainda, hoje, a teoria de Aristóteles sobre a arte da poesia ou da poética, apresentando-a como imitação, transformação ou mutação da realidade vista por outro ângulo, o poeta é uma espécie de mago, feiticeiro, bruxo ou encantador. Desse ponto de vista, ele, o poeta, pode transfigurar a linguagem da semântica, isto é: fazer com que as palavras, à maneira dos camaleões, passem por um processo mimético ou do mimetismo. E, assim, como camaleão que, para preservar-se dos predadores mais perigosos, adapta a coloração da pele à cor do ambiente, para fingir e confundir-se com a paisagem, também o poeta faz com que as palavras imitem a realidade, procurando inseri-las no contexto semântico que corresponda à contemporaneidade.
O poeta português, Fernando Pessoa, traduz esse paradoxo ou ambiguidade aristotélica sobre o ato da imitação à realidade: “o poeta é um fingidor/finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.
Já o poeta ludovicense, Nauro Machado, outro ser humano-cultural incompreendido em seu tempo, se confessa e, portanto, explica-nos: “a dor de ser poeta/ do ser fatal/ a dor de ser feroz/ é instante só/ mas que no ser demora e dura e fere/ para que mais doa”.
Déo, Cid e Adailton, tiveram essas performances em suas personalidades literárias e, por isso, talvez, não foram compreendidos na essência de suas vidas.
Eis, a seguir, as breves biografias de Déo Silva, Cid Teixeira
e uma análise sobre Adailton Medeiros:
O poeta de vanguarda
Raymundo Nonato da Silva, conhecido nos meios literários pelo pseudônimo de Déo Silva, nasceu em Caxias a 15 de agosto de 1937 e era filho de Jefferson Antônio da Silva e de Araçay Carneiro da Silva. Seus estudos se iniciaram com o curso primário, concluído no Grupo Escolar Gonçalves Dias em Caxias-Maranhão. O curso ginasial, iniciado no Colégio Caxiense não chegou a concluí-lo.
Autodidata, tinha um verdadeiro fascínio pela Gramática e possuía um estilo incomum quando escrevia. Militou, nos primórdios de sua carreira literária, como jornalista, integrando o corpo redacional dos principais jornais de São Luis, entre os anos 1953 e 1954. Foi redator-chefe do Suplemento Literário do “Diário da manhã” de 1957 a 1959. Atuou como locutor-redator, nas rádios: Ribamar, Timbira e Difusora em São Luis entre 1953 a 1958.
Lançou seu primeiro livro: “ÂNGULO NOTURNO” (prosa e poesias em 1959, obra que, de certo modo, revolucionou as letras maranhenses, inclusive por apresentar experiências gráfico-jornais. Fez parte, ao lado de Bandeira Tribuzzi, Ferreira Gullar, Nauro Machado e José Chagas, do Movimento Concretista, que se esboçou no Maranhão, imprimindo a força e o vigor do seu talento.
Ao tempo em que era chefe regional da Carteira de Crédito Agrícola e industrial do Banco do Brasil S/A (CREAI), divulgou, através da imprensa, um trabalho de pesquisa sócio-econômico pertinente à cidade de Pinheiro, na baixada maranhense, tendo com resultado uma alteração substancial e proveitosa na vida creditícia e produtora daquela região. Em 1970 se ausentou do Maranhão durante seis anos. Em Manaus, vinculado ao Clube da Madrugada, órgão que congrega os escritores daquela região, publicou, através da imprensa, vários artigos e poemas que obtiveram grande receptividade.
Participou, em 1973, da Primeira mostra de Arte Concreta Brasileira, realizada em Fortaleza-Ceará. Representando o Estado do Maranhão, apresentou, ao ensejo, o produto de suas pesquisas estéticas, veiculadas após pela imprensa alencarina. Participaram nesse conclave autores de nome nacional como Décio Pignatari, Goebel Weyne e outros.
Em 30/10/1977, recebeu do “Clube Recreativo Caxiense”, o diploma de poeta-filósofo. Em 31/07/1978 recebeu, em Teresina, o certificado de “Homem de Ouro”, de preferência pública, pela sua atuação literária durante aquele ano. Em 30/07/1979, indicado pela Presidência da extinta, Fundação Cultural do Maranhão, de quem era Assessor, participou, com destaque, do “Seminário como Núcleo de Altos Estudos Amazônicos”, promovido pela Universidade Federal do Maranhão.
Conhecedor da região amazônica , onde fez diversificadas pesquisas, lá assistiu, na tribo dos Ticunas, à festa da “Menina moça”. E o Cacique, na oportunidade, deu-lhe, de presente, um colar (trabalho artesanal) contendo as mais importantes aves e répteis da região, feitos de tucum. Em 1980 foi publicado seu segundo livro “EQUAÇÃO DO VERBO” (prosa e poesia), obra premiada através do plano Editorial – 80, FUNC/SIOGE.
Figura, com certo mérito, em vários livros de crítica. O respeitável escritor brasileiro Walmir Ayala, através do Jornal do Brasil (Rio) assim se expressou relativamente à poesia de DÉO: “labiríntico exercício de ser uma certa melancolia, tendendo à poesia pura”.
Suas atividades no Banco do Brasil nos Estados do Maranhão (Caxias e Pinheiro), Pará ((Marabá), Amazonas (Tefé) e São Paulo (Jaboticabal), foram marcadas pelo seu talento criativo e renovador. Foi chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Caxias (1977-1978). Assessor da Provedoria do Hospital “Miron Pedreira” em Caxias de 1976 à 1978. Exerceu o cargo em Comissão de Assessor Cultural do Departamento de Assuntos Culturais da Fundação Cultural do Maranhão.
Cid Teixeira de Abreu nasceu na comunidade Alto dos Negros da cidade de Caxias do Maranhão, em 02 de julho de 1937. Era filho de João Luiz de Abreu e Amélia Assunção Teixeira de Abreu.
A escolaridade de Cid Teixeira de Abreu foi iniciada em sua terra natal, onde cursou o primeiro grau no Grupo Escolar Coelho Neto. Posteriormente, já em terras alterosas, na capital, precisamente, Belo Horizonte, concluiu os segundo e terceiro graus no Colégio Marconi e Universidade Federal de Minas gerais; habilitando-se com o Bacharelato em Filosofia. Porém, para enriquecimento dos seus conhecimentos, Cid Teixeira de Abreu tornou-se pós-graduado em Especialização da Educação pela Universidade Federal do Piauí, na qual fora exímio membro de seu corpo docente.
Na vida funcional, o ilustre filósofo e mestre caxiense, Cid Teixeira de Abreu, exerceu atividades como professor de filosofia no Colégio Ângelo Roncalli, na capital mineira, Belo Horizonte; em sua cidade, Caxias do Maranhão, no Ginásio Caxiense, no Colégio São José, na Faculdade de Educação de Caxias e, ainda, em Teresina; na Universidade Federal do Piauí.
Filosoficamente, além da docência, Cid Teixeira de Abreu inseriu-se no campo literário e, nele, construiu uma vasta obra no gênero da poesia moderna e de cordel. Publicou seu primeiro livro de poesias em 1961, intitulado Poemas I, depois vieram Terra-Terrão, em 1985; Moenda, em 1986 e Ulysses & Outros Motivos, em 1995. Em cordel, lançou A Função Social do Cordel, em 1995; O Galo, em 1995; A Balaiada, em 1996; Ilustração Eleitoral, em 1996; Caxias, em 1997; Mangueira, em 1997; A Máquina de Votar, em 1998. Participou, também, em várias Antologias Poéticas, dentre as quais: Poetas Brasileiros de Hoje, em 1985; Visão Histórica da Literatura Piauiense, em 1991; Escritores e Poetas de Todos os Tempos, em 1993; Dicionário Biográfico de Escritores e Poetas, em 1995; Baião de Todos, em 1996, Andarilhos da Palavra, em 2000.
Cid Teixeira de Abreu foi membro fundador da Academia Caxiense de Letras com assento na Cadeira nº 05, cujo patrono é Vespasiano Ramos. Como literato, ganhou inúmeros prêmios institucionais de poesia: Diário de Minas, Jornal dos Livros, União Nacional dos Estudantes, Clube da Poesia e Prêmio Internacional de Poesia Americana (Colorado, EUA ). Cid Teixeira de Abreu desapareceu, em 10 de dezembro de 2004; um dia após ter sido homenageado pela Câmara Municipal de Teresina, capital do Piauí com a distinção de “Cidadão Teresinense”.
Sobre Adailton Medeiros, com quem estive apenas em duas ocasiões, o jornalista e escritor carioca, Canha Silva Filho, fez a análise que se segue:
O monge poeta
Adailton Medeiros, poeta no superior sentido da palavra, poeta criativo, inserido na modernidade, vindo da Vanguarda chamada Práxis, surgida no ano de 1962. Como salienta Assis Brasil no seu utilíssimo Vocabulário técnico de literatura (Edições de Ouro, 1970), aquele movimento inovador, inaugurado por Mário Chamie, constituiu com o Concretismo de 1956 e o Poema-Processo (1967) os “três movimentos de Vanguarda no Brasil”
A sua evolução poética não o limitou ao praxismo. As vanguardas são válidas, porém passam. Deixam lições, processos novos de poeticidade e, no final, seus adeptos mudam de rumo em direção a seus próprios caminhos, ou seja, procuram uma poesia que atenda ao valor da palavra, do verso e do discurso, mas, na geral, as marcas espácio-gráficas parecem insinuar-se nas novas formas da produção poética. A sintaxe e o espaço livre da página, a extensão das linhas do verso, alguns recursos grafemáticos voltam a integrar os novos processos, técnicas, dicções e vozes da poesia contemporânea, nacional ou universal.
Adaílton Medeiros deixou 9 obras, 5 no gênero poético e 4 distribuídas em ficção, uma novela, Revoltoso Ribamar Palmeira (Rio de Janeiro: Matavalos, 1978); Braçadas de palmas (discurso), Rio de Janeiro: ACLERJ, 1981); Floração de Minas (discurso), Rio de Janeiro: AbdL, 1982); Quatro ensaios In: Samuel, Rogel.(org.). Literatura básica. Petrópolis: Vozes, 1985, v. 1. Poesia: O sol fala aos sete reis das leis das aves. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972; ; Cristó’ vão Cristo: Imitações.São Luís/Rio de Janeiro: Coleção Azulejo, 1976; ; Poema Ser Poética, texteoria. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982: Lição do mundo. Rio de Janeiro, Edição. Sete, 1992; Bandeira vermelha. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2001.
Adailton Medeiros foi jornalista, professor ( por pouco tempo) e atuou no setor privado. Essencialmente, era poeta. Pertenceu à Academia Brasileira de Literatura, Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro e Academia Caxiense de Letras, (Caxias, MA). Era sócio dos Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro. Pertencia à Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Academia de Letras de Uruguaiana (RS), ao Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, à Academia Internacional de Ciências Humanísticas. Membro vitalício da IWA - International Writers and Artists Association (USA). Sua poesia se encontra em antologias e periódicos nacionais e internacionais.
Adailton Medeiros faleceu a 09 de março deste ano de 2010.
Um poema de Adailton Medeiros:
O SINO
“O sino bate
dentro de mim
O sino toca
na Catedral
ou no Mosteiro
Agora, o sino soa
surdo por mim” A.M.
Em Caxias vive-se uma época de infertilidade artística. Os grupos que desenvolvem trabalhos na área não recebem incentivos e consequentemente não possuem acesso àquilo que de mais atual está sendo produzido no Brasil em termos artísticos.
Diante desse quadro não se pode sequer reclamar dos espetáculos ultrapassados ou de pouca qualidade que são encenados na cidade. Aqui, o tempo não passou, porque ficamos como uma cidade esquecida, que esporadimente recebe alguma novidade.
Não há preocupação com o desenvolvimento da arte e da cultura local. Se houvesse esse intuito, haveria dinheiro disponível para as realizações propostas. Mas a verdade é que na cidade de Caxias o desenvolvimento intelectual não parece ser a prioridade.
Nega-se à população caxiense o direito ao conhecimento artístico, enquanto se reclama que a culpa é da falta de organização dos grupos. Na verdade, Caxias possui vários grupos organizados, no entanto, sem incentivo algum para seus projetos.
Caxias é terra de Gonçalves Dias, mas ele bem soube que se queria ser grande, precisava sair daqui. Será que isso nunca vai mudar?